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domingo, 19 de junho de 2022

CORPOS CAÍDOS

 


            As folhas caem das árvores, de forma precipitada, em pleno verão. Os ramos secam sob a sede do sol e tombam mortos na cinza do chão.
            Os pardais, surpreendidos, procuram uma explicação: como comer e dormir se não há florestação?
            Quem poderá dar uma resposta? Pergunte-se aos sábios do mundo que têm o poder na mão. Que desejam dominar o homem, os céus e a Terra, sem misericórdia ou compaixão. Tramando guerras desesperadas contra a democracia, que eles nunca vencerão, pois a morte é a igualdade que todos receberão. 
            E como folhas caídas e sem riqueza ou poder que corrompa uma exceção, olharão olhos nos olhos a sua efémera vaidade e pouco depois morrerão.

sábado, 16 de abril de 2022

Estende as tuas Asas

     Estende as tuas asas, porque pode ser que consigas voar. Talvez te surpreendas com a mecânica do teu corpo mas, sobretudo, com aquilo que o teu espírito pode alcançar. Pássaros de asa quebrada voltam a voar no céu. Borboletas com as asas rasgadas, voam milhares de quilómetros para completar as suas viagens migratórias. E tu, tropeças nos escombros do mundo e arrastas os pés pela poeira vermelha e sofres a dor de estares ferido na tua liberdade.
    As aves, os insetos e os animais prosseguem apesar das suas fraturas. Tu contrapões esse facto, dizendo que eles são movidos pelo seu instinto de sobrevivência. Mas não és tu que tens o privilégio da inteligência? Então usa-a para te tornares mais humano  e soltares a alma. Se tentares, talves consigas curar o coração danificado, arrancares as penas e voares.

quarta-feira, 23 de março de 2022

"O AMOR NÃO FAZ MAL O PRÓXIMO"

    Sucedem-se os tempos, na esperança que chegue o sentimento que perdido no labirinto dos anos nos desespera. Os olhos quase cegos de espiar todos os dias o longínquo vazio do horizonte. A boca amordaçada e seca pelo silêncio e pela sede da palavra que não chega e que ecoará por todo o corpo num grito de liberdade.

    Uma palavra viva, entenda-se. Não uma simples pronúncia que morre entre as tenazes dos abraços da mentira.

    Uma palavra sincera que é verdadeiramente o significado e o objetivo da vida: AMOR!

    Enquanto a fome,  a violência e os migrantes irrompem em lágrimas pelas fronteiras do mundo e a guerra, numa expressão de ódio, vai destruindo a alegria, as famílias e a paz, muitos resistem com coragem, confiantes e desarmados, "porque o amor não faz mal ao próximo." Bíblia, Romanos 13:10.

   

sábado, 19 de março de 2022

FRUTO DO ESPÍRITO

 

Hoje não pretendia escrever-te. Mas de que outra forma é que poderia declarar-te o Amor que sinto. Neste mundo de mensagens e de tráfego digital, de likes, smiles e frases desfeitas pela partilha exagerada através da internet, eu não quero ser mais uma rima num poema impessoal. Por isso pego neste pequeno caderno e debruçado sob o arco circunflexo do sol, vou alinhavando esta mensagem pessoal que te enviarei numa carta pelos meios tradicionais. Como podes perceber quero este Amor guardado na intimidade dos meus sentimentos. Não quero expô-lo numa montra de vaidades e explorar a opinião dos outros, num requinte de futilidades.

Para mim, dizer que te amo tem um único significado: és a primeira de todas as coisas que existem no meu pensamento e a quem me dedico.

Sem dúvida que existem muitas outras coisas, mas de todas elas só o Amor não é supérfluo.

Apenas Ele nos pode fazer felizes. E eu procuro, cada dia, ser mais feliz. Por isso vejo o sol, o movimento dos pássaros, as gotas de chuva suaves sobre a relva e tudo tem um significado novo. E detenho-me a olhar, com os olhos maravilhados pela perfeita natureza que pode irradiar a nossa vida e deixo-me guiar pelo teu espírito. Porque "... O fruto do espírito é: amor, alegria, paz..." Bíblia, Gálatas 5:22.

domingo, 13 de março de 2022

Uma Côdea de Liberdade

 

O vento passou hoje mais cedo e com uma cadência mais forte. Enquanto dormíamos arrancou as flores novas e frágeis das árvores de fruto e as pétalas indefesas das rosas. Delas ficou apenas um vago perfume na memória. Aqui neste lugar começamos a ficar cada vez mais conscientes do inesperado, do ar violento que varre a atmosfera, e uma inquieta ansiedade começa  a apoderar-se de nós como uma tesoura cortando os caules da nossa natureza tranquila.

O Caio disse que podíamos ir viver num lugar qualquer do planeta Terra, onde vivessem apenas umas quantas pessoas. Ali podíamos criar galinhas e cultivar uma horta, acertando o nosso tempo nos ponteiros do sol e pela noite poderíamos contar estrelas até adormecermos tranquilamente protegidos da escuridão.

Mas nada disso se realizou, porque ele morreu, e entretanto também a privacidade humana está completamente vigiada por satélites que nos vêem como galinhas e querem pôr os nossos ovos todos no mesmo cesto.

Enfim, eu continuo a pensar que o homem devia ter uma côdea de liberdade, para poder alimentar a sua personalidade e o seu vazio interior e ser feliz. Mas o mundo confinou-nos às prisões tecnológicas e à alimentação digital.

Felizmente que, ainda não proibiram o meu velho Livro e é nele que me liberto, escutando: "Mas aquele que examina com cuidado a lei perfeita que pertence à liberdade, e continua nela, tornou-se não um ouvinte que facilmente se esquece, mas um cumpridor da obra; e ele será feliz no que faz." Bíblia Tiago 1:21

domingo, 6 de março de 2022

O Mendigo rendido

   

Ninguém sabe quem era aquele mendigo, que às portas da guerra com as mãos estendidas e rendidas ao vento, de lábios desarmados e sem ódio, com o corpo ferido por inúmeras batalhas, derramava súplicas apenas pedindo: "por favor, um pedaço de paz!" Podia tratar-se simplesmente de um pai ou de um homem comum a quem já não restasse outra coisa se não coragem e esperança para tentar comover os militares com os farrapos da sua dignidade.

O certo é que dele, agora só restam as palavras escritas na parede de uma ruína com os lápis em sangue dos dedos, dirigindo-se aos reis de todas as guerras: "Nuvens sem água levadas de um lado para o outro pelos ventos; árvores do fim de outono, sem frutos, duas vezes mortas, arrancadas pela raiz; ondas furiosas do mar, que lançam a espuma da sua própria vergonha; estrelas sem rumo fixo, para as quais está reservada para sempre a mais profunda escuridão." Bíblia: Judas 12-13.

 

o AMOR é difícil

 

O amor é difícil. A nossa entrega e generosidade em relação aos outros pode não ser correspondida. E então há uma inquietante pergunta a resvalar dentro de nós. Valeu a pena a minha dádiva, o tempo em que me esqueci de mim para me doar aos problemas dos outros? Não te embaraces nesses pensamentos que como redes te arrastam para a profundidade da incerteza. Não te deixes pescar pela dúvida, senão vais ser como um peixe, a debater-se fora de água com a falta de oxigénio. Pensa sempre que o amor que deste foi genuíno e que o dedicaste sem o objetivo de receberes algo em troca. Foste altruísta, como o são os que amam a dignidade. Não te impeças de voltar a amar quando a tua essência o exige, porque o teu amor pode ajudar os feridos de solidão, os mendigos de carinho e muitos daqueles que cegos pela escuridão ainda não encontraram nem sabem o que é o amor. Ama totalmente! Não temas qualquer consequência negativa e que sofras pela tua dádiva, que nunca será um gesto vão.

"No amor não há medo, mas o perfeito amor expulsa o medo, porque o medo nos restringe. Realmente quem tem medo não foi aperfeiçoado no amor." Bíblia 1 João 4:18

Que possas aperfeiçoar o teu amor e que medites nas palavras que transcrevi do meu velho e sábio LIVRO e expulses de ti o medo de amar.

 

sábado, 5 de março de 2022

Comboio de nuvens

 

        Vás para onde fores, encontras sempre o silêncio agarrado à tinta das paredes das casas abandonadas. As ruas, os caminhos e os vales e qualquer pedaço de terra desocupada, servem de albergue à necessidade de teres onde ficar, de descansares, ou de morreres sem dignidade, sem nada.

        Olhas um comboio de nuvens que viajam no céu e pensas que podias ser seu passageiro e chover sobre um campo fértil de paz.

        Só as memórias te acompanham, as boas e as más, mas sentes-te sozinho, porque elas de nada servem perante a asfixia da realidade.

        Mas, apesar de tudo, tu tens esperança de sobreviver mesmo com o coração torturado e preso por aqueles que ostentam, na passarelle do medo, as botas cardadas e o poder das fardas

        Temos esta esperança como uma âncora para a alma, tanto segura como firme e ela entra até ao interior da cortina”. Bíblia: Hebreus: 6:19.

sábado, 26 de fevereiro de 2022

o dia nasce com uma promessa de PAZ


 

            De manhã, com uma paciência de milhões de anos, o sol vai, como raios de laser, rasgando lentamente as cortinas do nevoeiro até exibir a paisagem: um cenário maravilhoso de garças brancas, refletindo os corpos nas poças de água em voos curtos e rasantes. 

    Os cavalos, molhados pelo orvalho, pastando nos campos de neblina com o hálito fresco de malmequeres brancos.

        Assim, como no princípio do mundo, na mais sincera tranquilidade, o dia nasce com uma promessa de PAZ. Aquela que alguns homens ameaçam com a pólvora da mentira e o rastilho do poder, ignorando a evidência da verdade que foi escrita neste velho LIVRO há milhares de anos:

        A duração da nossa vida é de setenta anos ou 80 para os mais fortes. Porém, esses anos estão repletos de dificuldades e tristeza. Passam depressa e rapidamente desaparecemos.” Bíblia: Salmo 90:10)

sábado, 19 de fevereiro de 2022

A MONTANHA

 


Todos temos as nossas epifanias que mais não são, na maioria das vezes, que vislumbres da realidade. Há alguns anos eu pensava nesta montanha como algo inacessível e que atingir o seu cume seria um feito extraordinário. Uma espécie de vitória sobre o absurdo. Hoje, do seu cimo, vejo claramente a distância por entre as fimbrias de poeira e a poalha do sol.

 Vejo as pessoas, como mosquitos, ficarem presas na lama dos dias.

        Uma guerra de palavras ferir o significado da liberdade.

        Uma multidão de migrantes, arrancando bandeiras com as mãos decepadas pelo escárnio do mundo.

       Os abutres do pânico a alimentarem-se dos corações mortos do medo.

        Olho tudo isto sem sentir um vestígio de arrependimento pelo imenso esforço que me trouxe até aqui mas, com piedade, baixo os olhos sobre este velho e sábio LIVRO que leio e em meditação transcrevo:

        Eu vi tudo isto e pus-me a refletir em todo o trabalho que se tem feito debaixo do sol, enquanto homem domina homem para o seu prejuízo.” (Bíblia: Eclesiastes 8:9)


sábado, 8 de maio de 2021

A ALEGRIA DO MELRO NEGRO

           

       


       Na Vila da Chamusca as manhãs acordam com o chilrear afinado dos pássaros. Na cidade do Rio de Janeiro os dias do meu filho despertam com o metralhar angustiado dos tiros.

      E mesmo neste momento, um melro negro continua a alegrar a tarde de música, como uma sobremesa maravilhosa na paz do meu almoço, enquanto na cidade do Rio de Janeiro do bico das metralhadoras negras sai o ensurdecedor barulho da guerra alimentando a fome da morte.

        Mas eu sei que eu, tu, todas as pessoas, têm um melro negro dentro de si, por isso libertemo-nos das armas e soltemos da gaiola o canto feliz da esperança.

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sexta-feira, 23 de abril de 2021

POEMA DO PALHAÇO

 


            Hoje vi um palhaço a passear na praia.

         Talvez fosse apenas alguém que decidiu

         mascarar-se de palhaço,

        para fazer rir as ondas

         e libertar-se do circo triste dos dias.


         Vi-o e fiquei entusiasmado

          com o seu riso exagerado,

          desenhado a baton vermelho,

          numa máscara feliz.


          Por um breve momento

          ele fez-me esquecer deste mundo sem rostos.

          E ao afastar-se na miragem do areal

          ele deixou-me lembranças e saudades,

          daquele tempo simples dos palhaços de verdade,

           que nos faziam rir

           até soltarmos as mais sinceras lágrimas de alegria.

sábado, 10 de abril de 2021

ESTA MANHÃ

 

A paisagem está verde de chuva. Os passarinhos, um grupo coral de afinada melodia, enchem a manhã de música e de alegria. Não se avista qualquer avião a deixar um risco de detritos na pintura bonita do céu. As garças brancas cavam a terra lavrada com a enxada dos bicos, procurando a sementeira de larvas de que se vão alimentar. Às 6 horas da manhã a natureza exerce a sua liberdade plena, enquanto os homens ainda dormem livres na inconsciência da sua imperfeição. E deste modo eu nasço para o novo dia na serena paz das coisas simples da vida, na mais completa inocência, até que os meus olhos sejam roboticamente abertos pelo sol ardente da realidade e ao soltar o primeiro berro acorde, e fazendo-me homem de repente, envergonhado, proteja a minha nudez com um colete à prova de balas.


domingo, 21 de março de 2021

OS ASTRONAUTAS DA ILUSÃO

Ilusão de astronauta,

senhor dos sem terra,

milionário de fomes,

ambicionas ser o Deus Homem dos Céus,

conquistando as galáxias

e os planetas,

tentando num foguetão desesperado

libertar-te do mundo,

pedindo proteção às estrelas

e fugindo para anos luz da morte.


Como homem podes ser tudo o que quiseres,

pois semeaste ouro nos campos de guerra

e mentiras nas coordenadas do vento

e depois colheste o pão

nas searas dos escombros

onde esgravatam os mendigos e os néscios.


Vestido de branco

esvoaças pela estratosfera

imitando a visão de uma pomba de paz,

tentando criar a vertigem do progresso

na globalização dos satélites

e no apelo ao coração dos meteoritos.


Enquanto dás voltas aos céus e à Terra

sentando no cockpit do Poder,

vais sendo sugado pelos reatores do tempo,

o corpo incapaz de resistir à gravidade,

e vais cair como um cometa

e morrer, como todo o humano,

e a tua última e absoluta certeza será,

que só o verdadeiro Deus Permanece para Sempre.

quarta-feira, 3 de março de 2021

CAMÉLIAS

 


Acariciei as pétalas das camélias, sentindo nos dedos o cetim da tua pele. A natureza por vezes é tão humana que até o cheiro das flores tem o odor que se derrama por detrás dos lóbulos das tuas orelhas e a sua textura é idêntica aos poros dos sentidos que deslizam pelo teu corpo sob o afago das minhas mãos.

Ligeiramente quentes pelo sol, embaraçado pelas nuvens de inverno, as pétalas e a pele são uma flor aberta ao tempo e à temperatura exata do movimento de translação do desejo.

Só depois de contemplada a beleza e extraída a sensação do toque, entramos, de facto, na natureza do AMOR. E aí jamais perderemos a noção das sucessivas estações dos anos, se as pétalas caírem e renascerem sob a intenção dos nossos sentimentos, de se manterem enraizados e vivos para sempre.

sábado, 9 de janeiro de 2021

CRIANÇA CHORANDO

 

Criança Chorando

 

Que as tuas lágrimas,

chovendo dos cântaros da alma,

possam comover as lágrimas do mundo

e fazer arder como palha

o coração de espantalho dos homens.


                                               Rio das Ostras, 20/07/2012

(A fome mata 8.500 crianças por dia.)

quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

FILHO DA MARATONA


 


Sempre falaste que gostavas de seguir o teu coração, com a mesma persistência do que a de um maratonista que se deixa levar pelo objetivo de percorrer os quarenta e dois mil cento e noventa e cinco metros, que no final lhe permitirão cortar a meta com os braços erguidos pelo orgulho e extravasando de alegria.

Mas o que é uma maratona quando comparada à dimensão e à distância da vida? Sei que vais continuar a viver como uma gaivota sob as penas do céu, numa inebriante e sedutora corrida pela liberdade. E aceito a tua dignidade e coragem de te entregares por inteiro aos teus ideais e emoções, e de correres infatigável ao longo dos caminhos e estradas de um mundo tão distante e com tantas provas já dadas de não ter fôlego nem soluções.

Apesar de tudo admiro a elegância da tua passada atlética, a fibra dos teus músculos esticada como cordas de guitarra, a proa do teu peito sulcando a maré do esforço, o brilho feliz dos teus olhos cheios de lágrimas arrancadas pelo vento quando corres e correndo te sentes livre para tentar vencer metro a metro esta corrida pela paz, pelos abandonados, pelos famintos, pelas migrações de expatriados e por todos aqueles que são ostracizados e sofrem, numa maratona contra um mundo cruel e sem liberdade.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

Armistício de AMOR

 

A chuva dispara sem cessar contra as janelas da nossa pequena casa. A neblina, como enormes folhas brancas de um papel opaco e vazio cerca-nos, obrigando-nos a tentar descrever as linhas imaginárias da paisagem.

As árvores desfolhadas lembram soldados, grandes como Golias, numa posição vigilante sobre a manifestação do outono.

Apesar deste exército que comanda o tempo, o momento é de paz. Tu dormes tranquilamente, desarmada sobre os lençóis, expondo a bandeira da tua pele de seda branca e eu, tolerante, espreito a agressiva atitude dos elementos lá fora. Somente deixando escorrer os minutos, para que venças o sono e pacificamente levantes os braços rendida, chamando-me para mais um armistício de AMOR.

terça-feira, 1 de dezembro de 2020

O TEMPO É SOMENTE UMA DESCULPA

 



Procuras o tempo, como se ele fosse a pergunta essencial da tua existência. Quanto tempo terei de vida? O que farei com o meu tempo? Quanto tempo sobreviverá este relacionamento? Quanto tempo durará o amor e a dor? A guerra e a paz?

Num determinado tempo terás todas as respostas. Não adianta desperdiçares o teu tempo a correres atrás do tempo. Porque se te fixares apenas no tempo não terás tempo para viver aquela vida sem tempo, onde farás todas as coisas sob a influência simples da vontade. Sob a liberdade espiritual que te orientará sem ponteiros.

Porque na verdade o tempo é somente uma desculpa para dizeres que não tens tempo para te entregares. E enquanto isso nada dás de ti mesmo e passas rapidamente sem um rasto na efémera disposição do tempo. Por isso sai do interior do mecanismo desse relógio e vive a noção do tempo.

Cria amizade, amor, gestos simples e altruístas. Constrói todas as espécies de dádivas no teu dia a dia. Os teus amigos, a família, as pessoas em geral, precisam que sejas pontual na atenção, nos afetos e na sensibilidade. Não sejas egoísta, não penses demasiado em ti, senão no final de toda a tua incessante procura a única e verdadeira certeza que terás é que perdeste o teu tempo

sábado, 21 de novembro de 2020

UM CAMINHO PARA ALÉM DAS PEDRAS


         Hoje fui até à beira do rio apanhar pedras, para escolher nas estradas de xisto um punhado de palavras que me permitisse construir um caminho onde os sentimentos e as emoções refletissem a beleza e a paz da paisagem, mas também a tranquilidade que se hospedara em mim. Neste lugar qualquer do planeta Terra tentei esquecer-me do mundo, mesmo que por vezes momentos, e criar a ilusão da liberdade. As andorinhas em voos rasantes, perfeitas como um fio de prumo, riscavam os bicos pela superfície da água. De quando em vez um peixe saltava  e suspenso no ar por milésimos de segundo aspirava a atmosfera.
        Subitamente, no meio daquela natureza simples e mansa, dei comigo a meditar nas miríades de pequenas coisas que nos podem fazer felizes. Mas para alcançarmos essa alegria, temos que passar a dar algum significado e consequência às nossas palavras, aos nossos juramentos e às nossas promessas, porque dizer que se Ama, não é o mesmo que sentir AMOR e demonstrá-lo.  

sábado, 14 de novembro de 2020

FIGURANTES E UM MUNDO DE VERDADE

 





FIGURANTES


        Fecha as cortinas meu AMOR e vamos dormir. Simplesmente adormecer sobre a erva macia dos sonhos, num sentimento paradisíaco de liberdade. Estou exausto da cena de mais um dia a representar um papel secundário no "teatro de operações" da vida. Somos apenas meros figurantes de um sistema de representação, onde o guião é escrito por profissionais de ficção que tatuam a dúvida na pele e na mente dos espectadores, de molde a que qualquer cenário seja uma perfeita ilusão. Os encenadores erguem palcos, como muralhas, em redor do mundo e nós representamos o medo. 

(Chamusca 14/11/2020)


UM MUNDO DE VERDADE


        Abre as cortinas meu AMOR, para o sol nascer dentro de nós. Deixa a girafa lamber o teu rosto  e os pássaros pousarem sobre os fios do teu cabelo, numa intimidade natural. Daqui podemos observar os campos que estão prontos para a colheita, semeada unicamente pelo trabalho das nossas mãos. Mas se quiseres podes vestir o vestido branco e ir rebolar nos prados verdes, pintados num cenário colorido de malmequeres e margaridas. Ou montar a Pérola, a égua mansa que pasta na paisagem e cavalgar nos cascos da liberdade. Podes simplesmente ficar aqui comigo a fazer AMOR, representando apenas a serena e tranquila realidade, onde não existe a ficção, a ilusão, a encenação, o palco de um qualquer "teatro de operações", mas tão somente a sublime existência de um mundo de verdade.

(Chamusca 14/11/2050)

domingo, 25 de outubro de 2020

CHEGASTE

  

 Chegaste. O sol ardia na rua queimando a beleza das flores e as asas frágeis dos pássaros. O silêncio destilava um calor intenso. O coração estava cozido pelo lume brando da solidão. Chegaste. A pele acesa derretendo-se no incenso do suor. Uma fogueira de mulher incendiando a palha seca da planície. Chegaste. Naquela hora em que o meu coração estava cheio de sede. O meu pensamento delirava com um oásis de água fresca. E o meu corpo era já somente cinza. Chegaste. Demasiado tarde. E nada entre nós aconteceu. Porque, nem a ilusão incendiada de desejo pode salvar do fogo um amor que já ardeu. 

sábado, 17 de outubro de 2020

Pela janela do comboio

 



            Pela janela do comboio passa a vida. 

          A arquitetura da paisagem é uma viagem rápida pelas ervas rasteiras da planície que, de súbito, dão lugar à montanha russa de torres de apartamentos caindo a pique sobre as casas baixas.

         As nuvens são brancas e também negras e sem qualquer preconceito tingem o azul do céu.

        O sol mergulha agora no Tejo, deixando à superfície um brilho que não é de prata, nem de ouro, mas tão simplesmente longas barbatanas e escamas de luz.

        As árvores são altas e parecem gigantes na minha imaginação a acelerar pelos campos.

     Por vezes avisto vacas, ovelhas, cabras, cavalos e também galos e galinhas pastando serenamente com uma dignidade mansa.

     Gosto de viajar de comboio, porque lá fora até até a poeira levantada pelo lavrar do trator transmite o trabalho árduo da paz, que só a bela e eterna criação da natureza de Deus nos pode dar.


Vila Franca de Xira/Entroncamento (14/10/2020) - comboio interregional.

quarta-feira, 16 de setembro de 2020

NÃO DEIXES!


Não deixes o sol se apagar no teu coração. Apesar das nossas imperfeições é possível controlar os sentimentos e as emoções.
Por AMOR vamos conseguir esquecer a mágoa, a dor, todas as lágrimas arrancadas pelo corpo a corpo da violência e pelo murro das palavras insensatas ditas sem pensar. Bons Amigos procuram viver em Paz, sem feridas abertas pelo preconceito e pela raiva, com o espírito renovado e em perfeita união.
Não deixes o sol morrer no ódio das tuas mãos. Vamos juntos acender o AMOR, deixando o sol brilhar no nosso coração.

sábado, 15 de agosto de 2020

GOSTO DO GIRASSOL DO TEU RISO

  

Gosto do teu riso assim, aberto como um girassol no rosto feliz da paisagem.
Apesar do mundo se estar a desfolhar em sentimentos caducos, tu continuas a fazer desabrochar sorrisos em pétalas de alegria.
Tu tens esperança na dádiva da vida e apesar de todos os efeitos negativos da condição humana, agarras-te com coragem e confiança à raiz profunda dos momentos positivos.
Gosto do girassol do teu riso, porque para além da sua beleza sincera, ele faz-me refletir no facto de que, apesar da imensa tristeza que brota nesta Terra, há sempre a firme esperança de que a alegria nos vai sorrir.

Foto: Maria Filipe

sexta-feira, 10 de julho de 2020

CAVALOS SELVAGENS


Os cavalos selvagens chegaram de noite. Atravessaram a avenida deserta e seguiram tranquilamente até ao parque. Comeram da relva que se estendia farta pelo campo e alguns, estendendo os pescoços esguios, alimentaram-se das folhas suspensas dos ramos mais baixos das árvores. A cidade estava surpreendida com toda aquela liberdade e com a coragem dos animais, que ousavam entrar na terra dos homens. Já pensava até no que lhes aconteceria quando, à primeira fresta de luminosidade da manhã, as pessoas os descobrissem e na sua intolerância os tentassem domar à força.
Contudo, com a mesma serenidade com que haviam chegado, os cavalos selvagens partiram antes do dia nascer. Protegidos pela noite e pela prudência. Livres, na sua condição de animais inteligentes que conhecem bem as cercas do mundo e as prisões mentais da pessoa humana.

sexta-feira, 22 de maio de 2020

UMA ROSA, DE VERDADE



     Somente eu sei que não me perdi no caminho. Os imprevistos acontecem! Mas é mais fácil aceitares a opinião que tens sobre o facto, do que acreditares na verdade. Por isso é inútil dizer-te que um idiota me apontou uma arma, para me tentar roubar o dinheiro que eu não tinha e que, depois, quando entrei naquele jardim para colher esta rosa, um homem desolado se dirigiu a mim para me contar com pormenores a doentia e trágica morta da sua noiva, falecida duas semanas antes do dia marcado para o casamento.
        Entre a violência, ou o roubo e a dor de um mundo cruel, apesar de tudo eu tentei que sobrevivesse o carinho. Por aquele homem enlutado, carente de ser confortado e receber um pouco de atenção e por ti, porque não já não havia tempo para chegar a horas ao encontro marcado contigo.
        Bem sei que se podem inventar histórias para facilitar a mentira, mas não é essa a situação. A verdade é que só esta rosa sabe a intenção porque a colhi. Não para te ser oferecida como um pedido de desculpas, mas unicamente para te agradar com a beleza e o perfume do genuíno AMOR.

quinta-feira, 7 de maio de 2020

COISA SIMPLES UM HOMEM E UMA MULHER SE AMANDO




A manhã chegou trazendo um dia sonâmbulo. Os olhos cobertos pela sombra da ilusão das nuvens.
Para não te acordar tateei a escuridão do quarto, procurando as roupas despidas pelo chão na urgência de libertar o corpo para a sensível nudez do AMOR.
Coisa simples um homem e uma mulher se amando. Sem qualquer ciência ou extraordinárias invenções. Apenas com carinho, sentimentos e emoções.
Lá fora os pássaros crescem nas árvores como frutos e em breve amadurecerão com o sol. A luz irromperá de vida iluminando o mundo que ainda está inteiro à nossa espera, na beira de um caminho estreito, longo, mas profundamente belo, coberto pelas pegadas das folhas caídas que nos guiarão até à Primavera. 


Golegã (Outubro de 2018)

sexta-feira, 1 de maio de 2020

UM VELHOTE VENDENDO LARANJAS


     Hoje vi um velhote vendendo laranjas à porta de casa para sobreviver à solidão.
        Frutas doces para adoçar a amargura dum tempo de silêncio amargo.
        Os seus olhos amarelecidos pelo sol quente do dia e pelo estio dos anos eram a única centelha de vida que iluminava a tarde desolada.
        Desgraçadamente eu não tinha dinheiro, nem tão pouco tive coragem para descascar uma simples palavra que, apenas por um breve momento, fosse como um sumo agradável e reconfortante para o seu coração.
        Cobarde e inútil, passei pelo velhote que vendia laranjas e somente trouxe a tristeza e as cascas da sua solidão.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

DEBAIXO DAS TUAS PESTANAS




Talvez seja este o ângulo que vês da vida. Pequeno, apertado e sobretudo vazio. Onde nem sequer o sol pode entrar, devido ao contorno da sombra alta dos muros. Mas tu sabes que a órbita do teu olhar só depende da tua consciência. Se levantares os olhos, avistarás imediatamente o céu apesar dele se encontrar a uma infinita distância de ti. Então porque perdes de vista o que te está próximo? Neste preciso momento, mesmo debaixo das tuas pestanas, a vida flui com todos os seus contrastes. Se quiseres vivê-la, tens que ser mais observador e ter outra atitude. A tua mulher, o teu marido, os teus filhos, a tua família, os teus amigos, os que sofrem e os que riem, todos precisam que repares neles e os vejas e te apercebas que eles são o verdadeiro significado da tua existência. Ao ficares consciente da presença dos outros, ao fazeres algo em benefício deles, a tua visão sobre o AMOR será mais ampla e ficarás livre da nesga do teu egoísmo. 

sábado, 19 de outubro de 2019

A VIDA QUE AINDA NÃO VIVESTE




Procuras palavras e apenas encontras areia. Um imenso deserto, onde o que dizes não se ouve, na dimensão do silêncio, envolto numa solidão tão árida que te irá transformar em mera poeira.
        Vives à procura de explicações, como se DEUS e o AMOR não bastassem para explicar porque existes. Observas todos os dias a tua mulher e os teus filhos, que são a clarividência da sementeira dos teus afetos, e os teus sentimentos apenas colhem a dúvida: o que fazer com estes frutos?
        A tua boca está seca. As mãos ressequidas. Aliás, todo o teu corpo está sedento de água e é urgente encontrares em ti mesmo esse regato de ternura. Se de facto acreditas no AMOR, porquê essa revolta e o desespero constantes contra aquilo que és? Homem imperfeito. E contra o mundo em que vives: a maior, mais cruel e estúpida prova da imperfeição humana.
        Se não acreditares que as mudanças começam dentro de ti, vais continuar a sobreviver alimentando as dúvidas e deixando morrer de fome a verdade: de que estás vivo! De que apesar de todos os tipos de miséria congeminados pelo homem e que arruínam a Terra, ainda não é tarde para te ajudares e te enlaçares nos braços dos outros!
        Achas que podes amar sem altruísmo? Voltemos ao começo desta carta e ao deserto profundo. De que valerá toda a riqueza, a volúpia do egoísmo, as ansiedades pessoais, se vais morrer ali, só, sem um oásis de esperança?

domingo, 9 de junho de 2019

AQUELAS CRIANÇAS



Através dos seus olhos, e só de olhar neles, me apercebo de uma poeira de lágrimas a tingir o rosto da paisagem. Pequenos pés, sujos desta espécie de barro, deixam pegadas, desta forma de sangue, ao longo do deserto dos caminhos, onde sequer uma árvore existe para proteger da sombra negra do sol.
Tudo o que eu pensava ser, o que imaginava capaz de fazer, o direito ao altruísmo que dizia possuir, são apenas cegas desculpas perante a verdade que acabo de ver. Porque aquelas mãos pequenas que se estendem para o vazio, apenas colhem o vento e o pó e espremem em vão os seios secos de todos os dias.
Destaca-se o brilho dos seus dentes, como lampejos de marfim, e nada mais.
Para aquelas crianças, tudo o que resta é a esperança de um dia viverem a vida que Deus prometeu.

(A fome mata 8.500 crianças por dia.)

sábado, 16 de março de 2019

AMAR, TODOS OS DIAS


Neste final de tarde em que as pessoas correm atrás de uma existência demasiado rápida, efémera e sem mistério algum, cansadas de tantas ilusões desfeitas. Neste final de tarde em que o céu se rasga num habitual azul, sem sequer esboçar a surpresa de uma cor inesperada, ocorre-me a lembrança e o sentimento de tudo o que representas para mim, tornando insignificantes todas as coisas. Sem ti, certamente não sentiria a beleza de viver e passaria o tempo numa ténue sobrevivência, sem apreender o significado da dádiva, o mais íntimo valor da vida.
        Quanto vale o ser humano sem o AMOR? Poderia perguntar-te agora o óbvio, neste momento em que a minha mão, longe do aconchego da tua, desliza preenchendo a solidão com estas palavras para sentir que estamos juntos e que as escutas. Como numa oração partilho assim contigo os meus pensamentos mais sinceros e deponho nas tuas mãos, não uma flor, mas a certeza irrefutável de que te amo todos os dias, sem necessitar de um qualquer dia especial, porque o AMOR é sempre constante quando permanece o carinho, o respeito e a gratidão.


segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

LÁ FORA BERRA A VIOLÊNCIA



        Quando dissermos todas as coisas convictos da sinceridade, mesmo as palavras mais simples e pequenas, sem receio do preconceito e daquilo que os outros possam pensar delas. Quando perdermos a lembrança do significado do medo e não nos fecharmos dentro das prisões de nós mesmos, poderemos então rebentar com as grades do silêncio e sermos livres.
        Por enquanto lá fora grita e berra a violência, o mundo desfazendo-se num palavreado inútil. As desculpas soam como trovões e por todo o lado a mentira rompe os tímpanos das ruas, impiedosa como uma tempestade.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

PERDIDO NA CINZA DOS DIAS

           


           Procurei-te por toda a casa numa obsessão insana, porque para além do teu corpo desaparecido já só haviam indícios do teu cheiro agarrado pelas paredes, pelas superfícies dos móveis e pelas esquinas do meu olfato animal. Estúpido, vivia na tua inexistência cavando no útero das memórias para voltar a encontrar-te e renascer com as mãos cobertas e cheias da tua essência. Tolo, procurava a lua no abismo do céu com os olhos iluminados de uma qualquer esperança cega. Ridículo, como só os homens sabem ser depois de perderem o leme da situação e se destroçarem contra as rochas da indiferença, sozinhos e frágeis e desamparados. Tristes e apagados, arrastando-se pela cinza dos dias, procurando uma explicação sobre o porquê do fogo lento onde foram imolando os seus sentimentos e relacionamentos. Porteiros sem tino, capazes apenas de abrir as portas e deixar entrar a luz intensa, mas incapazes de evitar que outras mãos as fechem com a violência do silêncio, na mais completa ausência de um simples adeus.
        Vou continuar a procurar-te todos os dias em todos os subterrâneos da minha dor, embora pensem que sou um louco e eu saiba que o sou por não ter sentido e reconhecido o quanto te amava até ter deixado de te ouvir, de te compreender, de te ter afastado da minha vida e te perder.

         Perdi-te e agora estou perdido nos pormenores do teu sorriso, das tuas carícias, na eternidade de todos os nossos momentos, sentindo alastrar em mim os sintomas da amargura e o sentimento definitivo e impossível de aceitar de que, provavelmente, não voltarei a encontrar o AMOR.                     
         
                                                                                                                                                                                                                                 

sábado, 10 de novembro de 2018

Um peixe brilhante


        Coisas simples são aquelas a que me agarro agora com as mãos quebradas pelo vazio. O coração numa dança solitária procurando enlaçar-se no compasso da rua deserta. Os momentos todos preenchidos pela melancolia deste dia a perder-se na insensatez da escuridão. Coisas simples são as que procuro desesperadamente para sobreviver aos despojos de mais uma batalha árdua e cruel. Não desejo dinheiro, tão pouco prazer ou poder, apenas persigo aquele inesquecível momento de surpreendente ternura em que lançaste o fio ao mar e um peixe brilhante suspenso do anzol das tuas delicadas e frágeis mãos veio cair sobre as rochas. Naquele exacto momento a tua esfuziante alegria preencheu-me a alma e o teu sorriso coberto de escamas foi a suprema certeza do teu AMOR.
         Coisas simples são as que peço no meu dia a dia. Acredita que apenas preciso que voltes a pescar um peixe e a sorrir, porque esses são os únicos e definitivos sinais que me podes dar de que ainda me amas e que és feliz.   

sábado, 6 de outubro de 2018

ESPELHOS DESFEITOS


O tempo passa
no espelho efémero dos dias
e reflecte os olhos,
surpreendidos pela nostalgia,
já apagados no cinzeiro das sombras,
só o fumo das recordações se esvaindo
no vento de cada dia.

Já nem sequer há mistérios
para desvendar a vida.
Só o corpo permanece,
um vestígio,
um sorriso,
um gesto,
um momento,
a lembrar o outro.

Aquele que tu foste
crescendo nos espelhos,
ocupando todo o espaço dos sonhos
e ao fechares os olhos,
num descuido de soberba
e ténue juventude,
te perderes e ferires para sempre
no vidro moído
dos caminhos da vaidade.

Não te desesperes,
tudo tem o seu tempo:
seca a erva,
murcham as flores,
desfazem-se as pétalas da tua pele
em poalha de rugas.
Mas se reflectires verás,
que nem sequer a primavera é eterna
e que no derradeiro final
do tempo de todas as vidas,
somente o espírito do AMOR permanece.


sábado, 15 de setembro de 2018

FELIZES E ABENÇOADOS


São os que Amam,
sem expectativas,
sem preconceitos,
sem desespero,
e aceitam as fraquezas
de todos os dias:
o pó lançado sobre os corpos,
o sangue do pólen
derramado sobre as flores,
a dor incessante da monotonia.

Eles sabem
que a Primavera não é eterna
e Amam,
simplesmente,
sem qualquer dúvida
ou espécie de nostalgia.

Amam,
na mais completa ausência
do sonho e da ilusão,
sem cenas de magia,
porque acreditam tão-somente
que o AMOR é real,
que não é um kama sutra
nem um manual de filosofia.