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quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

Armistício de AMOR

 

A chuva dispara sem cessar contra as janelas da nossa pequena casa. A neblina, como enormes folhas brancas de um papel opaco e vazio cerca-nos, obrigando-nos a tentar descrever as linhas imaginárias da paisagem.

As árvores desfolhadas lembram soldados, grandes como Golias, numa posição vigilante sobre a manifestação do outono.

Apesar deste exército que comanda o tempo, o momento é de paz. Tu dormes tranquilamente, desarmada sobre os lençóis, expondo a bandeira da tua pele de seda branca e eu, tolerante, espreito a agressiva atitude dos elementos lá fora. Somente deixando escorrer os minutos, para que venças o sono e pacificamente levantes os braços rendida, chamando-me para mais um armistício de AMOR.

terça-feira, 1 de dezembro de 2020

O TEMPO É SOMENTE UMA DESCULPA

 



Procuras o tempo, como se ele fosse a pergunta essencial da tua existência. Quanto tempo terei de vida? O que farei com o meu tempo? Quanto tempo sobreviverá este relacionamento? Quanto tempo durará o amor e a dor? A guerra e a paz?

Num determinado tempo terás todas as respostas. Não adianta desperdiçares o teu tempo a correres atrás do tempo. Porque se te fixares apenas no tempo não terás tempo para viver aquela vida sem tempo, onde farás todas as coisas sob a influência simples da vontade. Sob a liberdade espiritual que te orientará sem ponteiros.

Porque na verdade o tempo é somente uma desculpa para dizeres que não tens tempo para te entregares. E enquanto isso nada dás de ti mesmo e passas rapidamente sem um rasto na efémera disposição do tempo. Por isso sai do interior do mecanismo desse relógio e vive a noção do tempo.

Cria amizade, amor, gestos simples e altruístas. Constrói todas as espécies de dádivas no teu dia a dia. Os teus amigos, a família, as pessoas em geral, precisam que sejas pontual na atenção, nos afetos e na sensibilidade. Não sejas egoísta, não penses demasiado em ti, senão no final de toda a tua incessante procura a única e verdadeira certeza que terás é que perdeste o teu tempo

sábado, 21 de novembro de 2020

UM CAMINHO PARA ALÉM DAS PEDRAS


         Hoje fui até à beira do rio apanhar pedras, para escolher nas estradas de xisto um punhado de palavras que me permitisse construir um caminho onde os sentimentos e as emoções refletissem a beleza e a paz da paisagem, mas também a tranquilidade que se hospedara em mim. Neste lugar qualquer do planeta Terra tentei esquecer-me do mundo, mesmo que por vezes momentos, e criar a ilusão da liberdade. As andorinhas em voos rasantes, perfeitas como um fio de prumo, riscavam os bicos pela superfície da água. De quando em vez um peixe saltava  e suspenso no ar por milésimos de segundo aspirava a atmosfera.
        Subitamente, no meio daquela natureza simples e mansa, dei comigo a meditar nas miríades de pequenas coisas que nos podem fazer felizes. Mas para alcançarmos essa alegria, temos que passar a dar algum significado e consequência às nossas palavras, aos nossos juramentos e às nossas promessas, porque dizer que se Ama, não é o mesmo que sentir AMOR e demonstrá-lo.  

sábado, 14 de novembro de 2020

FIGURANTES E UM MUNDO DE VERDADE

 





FIGURANTES


        Fecha as cortinas meu AMOR e vamos dormir. Simplesmente adormecer sobre a erva macia dos sonhos, num sentimento paradisíaco de liberdade. Estou exausto da cena de mais um dia a representar um papel secundário no "teatro de operações" da vida. Somos apenas meros figurantes de um sistema de representação, onde o guião é escrito por profissionais de ficção que tatuam a dúvida na pele e na mente dos espectadores, de molde a que qualquer cenário seja uma perfeita ilusão. Os encenadores erguem palcos, como muralhas, em redor do mundo e nós representamos o medo. 

(Chamusca 14/11/2020)


UM MUNDO DE VERDADE


        Abre as cortinas meu AMOR, para o sol nascer dentro de nós. Deixa a girafa lamber o teu rosto  e os pássaros pousarem sobre os fios do teu cabelo, numa intimidade natural. Daqui podemos observar os campos que estão prontos para a colheita, semeada unicamente pelo trabalho das nossas mãos. Mas se quiseres podes vestir o vestido branco e ir rebolar nos prados verdes, pintados num cenário colorido de malmequeres e margaridas. Ou montar a Pérola, a égua mansa que pasta na paisagem e cavalgar nos cascos da liberdade. Podes simplesmente ficar aqui comigo a fazer AMOR, representando apenas a serena e tranquila realidade, onde não existe a ficção, a ilusão, a encenação, o palco de um qualquer "teatro de operações", mas tão somente a sublime existência de um mundo de verdade.

(Chamusca 14/11/2050)

domingo, 25 de outubro de 2020

CHEGASTE

  

 Chegaste. O sol ardia na rua queimando a beleza das flores e as asas frágeis dos pássaros. O silêncio destilava um calor intenso. O coração estava cozido pelo lume brando da solidão. Chegaste. A pele acesa derretendo-se no incenso do suor. Uma fogueira de mulher incendiando a palha seca da planície. Chegaste. Naquela hora em que o meu coração estava cheio de sede. O meu pensamento delirava com um oásis de água fresca. E o meu corpo era já somente cinza. Chegaste. Demasiado tarde. E nada entre nós aconteceu. Porque, nem a ilusão incendiada de desejo pode salvar do fogo um amor que já ardeu. 

sábado, 17 de outubro de 2020

Pela janela do comboio

 



            Pela janela do comboio passa a vida. 

          A arquitetura da paisagem é uma viagem rápida pelas ervas rasteiras da planície que, de súbito, dão lugar à montanha russa de torres de apartamentos caindo a pique sobre as casas baixas.

         As nuvens são brancas e também negras e sem qualquer preconceito tingem o azul do céu.

        O sol mergulha agora no Tejo, deixando à superfície um brilho que não é de prata, nem de ouro, mas tão simplesmente longas barbatanas e escamas de luz.

        As árvores são altas e parecem gigantes na minha imaginação a acelerar pelos campos.

     Por vezes avisto vacas, ovelhas, cabras, cavalos e também galos e galinhas pastando serenamente com uma dignidade mansa.

     Gosto de viajar de comboio, porque lá fora até até a poeira levantada pelo lavrar do trator transmite o trabalho árduo da paz, que só a bela e eterna criação da natureza de Deus nos pode dar.


Vila Franca de Xira/Entroncamento (14/10/2020) - comboio interregional.

quarta-feira, 16 de setembro de 2020

NÃO DEIXES!


Não deixes o sol se apagar no teu coração. Apesar das nossas imperfeições é possível controlar os sentimentos e as emoções.
Por AMOR vamos conseguir esquecer a mágoa, a dor, todas as lágrimas arrancadas pelo corpo a corpo da violência e pelo murro das palavras insensatas ditas sem pensar. Bons Amigos procuram viver em Paz, sem feridas abertas pelo preconceito e pela raiva, com o espírito renovado e em perfeita união.
Não deixes o sol morrer no ódio das tuas mãos. Vamos juntos acender o AMOR, deixando o sol brilhar no nosso coração.

sábado, 15 de agosto de 2020

GOSTO DO GIRASSOL DO TEU RISO

  

Gosto do teu riso assim, aberto como um girassol no rosto feliz da paisagem.
Apesar do mundo se estar a desfolhar em sentimentos caducos, tu continuas a fazer desabrochar sorrisos em pétalas de alegria.
Tu tens esperança na dádiva da vida e apesar de todos os efeitos negativos da condição humana, agarras-te com coragem e confiança à raiz profunda dos momentos positivos.
Gosto do girassol do teu riso, porque para além da sua beleza sincera, ele faz-me refletir no facto de que, apesar da imensa tristeza que brota nesta Terra, há sempre a firme esperança de que a alegria nos vai sorrir.

Foto: Maria Filipe

sexta-feira, 10 de julho de 2020

CAVALOS SELVAGENS


Os cavalos selvagens chegaram de noite. Atravessaram a avenida deserta e seguiram tranquilamente até ao parque. Comeram da relva que se estendia farta pelo campo e alguns, estendendo os pescoços esguios, alimentaram-se das folhas suspensas dos ramos mais baixos das árvores. A cidade estava surpreendida com toda aquela liberdade e com a coragem dos animais, que ousavam entrar na terra dos homens. Já pensava até no que lhes aconteceria quando, à primeira fresta de luminosidade da manhã, as pessoas os descobrissem e na sua intolerância os tentassem domar à força.
Contudo, com a mesma serenidade com que haviam chegado, os cavalos selvagens partiram antes do dia nascer. Protegidos pela noite e pela prudência. Livres, na sua condição de animais inteligentes que conhecem bem as cercas do mundo e as prisões mentais da pessoa humana.

sexta-feira, 22 de maio de 2020

UMA ROSA, DE VERDADE



     Somente eu sei que não me perdi no caminho. Os imprevistos acontecem! Mas é mais fácil aceitares a opinião que tens sobre o facto, do que acreditares na verdade. Por isso é inútil dizer-te que um idiota me apontou uma arma, para me tentar roubar o dinheiro que eu não tinha e que, depois, quando entrei naquele jardim para colher esta rosa, um homem desolado se dirigiu a mim para me contar com pormenores a doentia e trágica morta da sua noiva, falecida duas semanas antes do dia marcado para o casamento.
        Entre a violência, ou o roubo e a dor de um mundo cruel, apesar de tudo eu tentei que sobrevivesse o carinho. Por aquele homem enlutado, carente de ser confortado e receber um pouco de atenção e por ti, porque não já não havia tempo para chegar a horas ao encontro marcado contigo.
        Bem sei que se podem inventar histórias para facilitar a mentira, mas não é essa a situação. A verdade é que só esta rosa sabe a intenção porque a colhi. Não para te ser oferecida como um pedido de desculpas, mas unicamente para te agradar com a beleza e o perfume do genuíno AMOR.

quinta-feira, 7 de maio de 2020

COISA SIMPLES UM HOMEM E UMA MULHER SE AMANDO




A manhã chegou trazendo um dia sonâmbulo. Os olhos cobertos pela sombra da ilusão das nuvens.
Para não te acordar tateei a escuridão do quarto, procurando as roupas despidas pelo chão na urgência de libertar o corpo para a sensível nudez do AMOR.
Coisa simples um homem e uma mulher se amando. Sem qualquer ciência ou extraordinárias invenções. Apenas com carinho, sentimentos e emoções.
Lá fora os pássaros crescem nas árvores como frutos e em breve amadurecerão com o sol. A luz irromperá de vida iluminando o mundo que ainda está inteiro à nossa espera, na beira de um caminho estreito, longo, mas profundamente belo, coberto pelas pegadas das folhas caídas que nos guiarão até à Primavera. 


Golegã (Outubro de 2018)

sexta-feira, 1 de maio de 2020

UM VELHOTE VENDENDO LARANJAS


     Hoje vi um velhote vendendo laranjas à porta de casa para sobreviver à solidão.
        Frutas doces para adoçar a amargura dum tempo de silêncio amargo.
        Os seus olhos amarelecidos pelo sol quente do dia e pelo estio dos anos eram a única centelha de vida que iluminava a tarde desolada.
        Desgraçadamente eu não tinha dinheiro, nem tão pouco tive coragem para descascar uma simples palavra que, apenas por um breve momento, fosse como um sumo agradável e reconfortante para o seu coração.
        Cobarde e inútil, passei pelo velhote que vendia laranjas e somente trouxe a tristeza e as cascas da sua solidão.