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sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

DEBAIXO DAS TUAS PESTANAS




Talvez seja este o ângulo que vês da vida. Pequeno, apertado e sobretudo vazio. Onde nem sequer o sol pode entrar, devido ao contorno da sombra alta dos muros. Mas tu sabes que a órbita do teu olhar só depende da tua consciência. Se levantares os olhos, avistarás imediatamente o céu apesar dele se encontrar a uma infinita distância de ti. Então porque perdes de vista o que te está próximo? Neste preciso momento, mesmo debaixo das tuas pestanas, a vida flui com todos os seus contrastes. Se quiseres vivê-la, tens que ser mais observador e ter outra atitude. A tua mulher, o teu marido, os teus filhos, a tua família, os teus amigos, os que sofrem e os que riem, todos precisam que repares neles e os vejas e te apercebas que eles são o verdadeiro significado da tua existência. Ao ficares consciente da presença dos outros, ao fazeres algo em benefício deles, a tua visão sobre o AMOR será mais ampla e ficarás livre da nesga do teu egoísmo. 

sábado, 19 de outubro de 2019

A VIDA QUE AINDA NÃO VIVESTE




Procuras palavras e apenas encontras areia. Um imenso deserto, onde o que dizes não se ouve, na dimensão do silêncio, envolto numa solidão tão árida que te irá transformar em mera poeira.
        Vives à procura de explicações, como se DEUS e o AMOR não bastassem para explicar porque existes. Observas todos os dias a tua mulher e os teus filhos, que são a clarividência da sementeira dos teus afetos, e os teus sentimentos apenas colhem a dúvida: o que fazer com estes frutos?
        A tua boca está seca. As mãos ressequidas. Aliás, todo o teu corpo está sedento de água e é urgente encontrares em ti mesmo esse regato de ternura. Se de facto acreditas no AMOR, porquê essa revolta e o desespero constantes contra aquilo que és? Homem imperfeito. E contra o mundo em que vives: a maior, mais cruel e estúpida prova da imperfeição humana.
        Se não acreditares que as mudanças começam dentro de ti, vais continuar a sobreviver alimentando as dúvidas e deixando morrer de fome a verdade: de que estás vivo! De que apesar de todos os tipos de miséria congeminados pelo homem e que arruínam a Terra, ainda não é tarde para te ajudares e te enlaçares nos braços dos outros!
        Achas que podes amar sem altruísmo? Voltemos ao começo desta carta e ao deserto profundo. De que valerá toda a riqueza, a volúpia do egoísmo, as ansiedades pessoais, se vais morrer ali, só, sem um oásis de esperança?

domingo, 9 de junho de 2019

AQUELAS CRIANÇAS



Através dos seus olhos, e só de olhar neles, me apercebo de uma poeira de lágrimas a tingir o rosto da paisagem. Pequenos pés, sujos desta espécie de barro, deixam pegadas, desta forma de sangue, ao longo do deserto dos caminhos, onde sequer uma árvore existe para proteger da sombra negra do sol.
Tudo o que eu pensava ser, o que imaginava capaz de fazer, o direito ao altruísmo que dizia possuir, são apenas cegas desculpas perante a verdade que acabo de ver. Porque aquelas mãos pequenas que se estendem para o vazio, apenas colhem o vento e o pó e espremem em vão os seios secos de todos os dias.
Destaca-se o brilho dos seus dentes, como lampejos de marfim, e nada mais.
Para aquelas crianças, tudo o que resta é a esperança de um dia viverem a vida que Deus prometeu.

(A fome mata 8.500 crianças por dia.)

sábado, 16 de março de 2019

AMAR, TODOS OS DIAS


Neste final de tarde em que as pessoas correm atrás de uma existência demasiado rápida, efémera e sem mistério algum, cansadas de tantas ilusões desfeitas. Neste final de tarde em que o céu se rasga num habitual azul, sem sequer esboçar a surpresa de uma cor inesperada, ocorre-me a lembrança e o sentimento de tudo o que representas para mim, tornando insignificantes todas as coisas. Sem ti, certamente não sentiria a beleza de viver e passaria o tempo numa ténue sobrevivência, sem apreender o significado da dádiva, o mais íntimo valor da vida.
        Quanto vale o ser humano sem o AMOR? Poderia perguntar-te agora o óbvio, neste momento em que a minha mão, longe do aconchego da tua, desliza preenchendo a solidão com estas palavras para sentir que estamos juntos e que as escutas. Como numa oração partilho assim contigo os meus pensamentos mais sinceros e deponho nas tuas mãos, não uma flor, mas a certeza irrefutável de que te amo todos os dias, sem necessitar de um qualquer dia especial, porque o AMOR é sempre constante quando permanece o carinho, o respeito e a gratidão.


segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

LÁ FORA BERRA A VIOLÊNCIA



        Quando dissermos todas as coisas convictos da sinceridade, mesmo as palavras mais simples e pequenas, sem receio do preconceito e daquilo que os outros possam pensar delas. Quando perdermos a lembrança do significado do medo e não nos fecharmos dentro das prisões de nós mesmos, poderemos então rebentar com as grades do silêncio e sermos livres.
        Por enquanto lá fora grita e berra a violência, o mundo desfazendo-se num palavreado inútil. As desculpas soam como trovões e por todo o lado a mentira rompe os tímpanos das ruas, impiedosa como uma tempestade.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

PERDIDO NA CINZA DOS DIAS

           


           Procurei-te por toda a casa numa obsessão insana, porque para além do teu corpo desaparecido já só haviam indícios do teu cheiro agarrado pelas paredes, pelas superfícies dos móveis e pelas esquinas do meu olfato animal. Estúpido, vivia na tua inexistência cavando no útero das memórias para voltar a encontrar-te e renascer com as mãos cobertas e cheias da tua essência. Tolo, procurava a lua no abismo do céu com os olhos iluminados de uma qualquer esperança cega. Ridículo, como só os homens sabem ser depois de perderem o leme da situação e se destroçarem contra as rochas da indiferença, sozinhos e frágeis e desamparados. Tristes e apagados, arrastando-se pela cinza dos dias, procurando uma explicação sobre o porquê do fogo lento onde foram imolando os seus sentimentos e relacionamentos. Porteiros sem tino, capazes apenas de abrir as portas e deixar entrar a luz intensa, mas incapazes de evitar que outras mãos as fechem com a violência do silêncio, na mais completa ausência de um simples adeus.
        Vou continuar a procurar-te todos os dias em todos os subterrâneos da minha dor, embora pensem que sou um louco e eu saiba que o sou por não ter sentido e reconhecido o quanto te amava até ter deixado de te ouvir, de te compreender, de te ter afastado da minha vida e te perder.

         Perdi-te e agora estou perdido nos pormenores do teu sorriso, das tuas carícias, na eternidade de todos os nossos momentos, sentindo alastrar em mim os sintomas da amargura e o sentimento definitivo e impossível de aceitar de que, provavelmente, não voltarei a encontrar o AMOR.