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sábado, 19 de outubro de 2019

A VIDA QUE AINDA NÃO VIVESTE




Procuras palavras e apenas encontras areia. Um imenso deserto, onde o que dizes não se ouve, na dimensão do silêncio, envolto numa solidão tão árida que te irá transformar em mera poeira.
        Vives à procura de explicações, como se DEUS e o AMOR não bastassem para explicar porque existes. Observas todos os dias a tua mulher e os teus filhos, que são a clarividência da sementeira dos teus afetos, e os teus sentimentos apenas colhem a dúvida: o que fazer com estes frutos?
        A tua boca está seca. As mãos ressequidas. Aliás, todo o teu corpo está sedento de água e é urgente encontrares em ti mesmo esse regato de ternura. Se de facto acreditas no AMOR, porquê essa revolta e o desespero constantes contra aquilo que és? Homem imperfeito. E contra o mundo em que vives: a maior, mais cruel e estúpida prova da imperfeição humana.
        Se não acreditares que as mudanças começam dentro de ti, vais continuar a sobreviver alimentando as dúvidas e deixando morrer de fome a verdade: de que estás vivo! De que apesar de todos os tipos de miséria congeminados pelo homem e que arruínam a Terra, ainda não é tarde para te ajudares e te enlaçares nos braços dos outros!
        Achas que podes amar sem altruísmo? Voltemos ao começo desta carta e ao deserto profundo. De que valerá toda a riqueza, a volúpia do egoísmo, as ansiedades pessoais, se vais morrer ali, só, sem um oásis de esperança?