Número total de visualizações de páginas

segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

PERDIDO NA CINZA DOS DIAS

           


           Procurei-te por toda a casa numa obsessão insana, porque para além do teu corpo desaparecido já só haviam indícios do teu cheiro agarrado pelas paredes, pelas superfícies dos móveis e pelas esquinas do meu olfato animal. Estúpido, vivia na tua inexistência cavando no útero das memórias para voltar a encontrar-te e renascer com as mãos cobertas e cheias da tua essência. Tolo, procurava a lua no abismo do céu com os olhos iluminados de uma qualquer esperança cega. Ridículo, como só os homens sabem ser depois de perderem o leme da situação e se destroçarem contra as rochas da indiferença, sozinhos e frágeis e desamparados. Tristes e apagados, arrastando-se pela cinza dos dias, procurando uma explicação sobre o porquê do fogo lento onde foram imolando os seus sentimentos e relacionamentos. Porteiros sem tino, capazes apenas de abrir as portas e deixar entrar a luz intensa, mas incapazes de evitar que outras mãos as fechem com a violência do silêncio, na mais completa ausência de um simples adeus.
        Vou continuar a procurar-te todos os dias em todos os subterrâneos da minha dor, embora pensem que sou um louco e eu saiba que o sou por não ter sentido e reconhecido o quanto te amava até ter deixado de te ouvir, de te compreender, de te ter afastado da minha vida e te perder.

         Perdi-te e agora estou perdido nos pormenores do teu sorriso, das tuas carícias, na eternidade de todos os nossos momentos, sentindo alastrar em mim os sintomas da amargura e o sentimento definitivo e impossível de aceitar de que, provavelmente, não voltarei a encontrar o AMOR.                     
         
                                                                                                                                                                                                                                 

Sem comentários:

Enviar um comentário