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domingo, 25 de outubro de 2020

CHEGASTE

  

 Chegaste. O sol ardia na rua queimando a beleza das flores e as asas frágeis dos pássaros. O silêncio destilava um calor intenso. O coração estava cozido pelo lume brando da solidão. Chegaste. A pele acesa derretendo-se no incenso do suor. Uma fogueira de mulher incendiando a palha seca da planície. Chegaste. Naquela hora em que o meu coração estava cheio de sede. O meu pensamento delirava com um oásis de água fresca. E o meu corpo era já somente cinza. Chegaste. Demasiado tarde. E nada entre nós aconteceu. Porque, nem a ilusão incendiada de desejo pode salvar do fogo um amor que já ardeu. 

sábado, 17 de outubro de 2020

Pela janela do comboio

 



            Pela janela do comboio passa a vida. 

          A arquitetura da paisagem é uma viagem rápida pelas ervas rasteiras da planície que, de súbito, dão lugar à montanha russa de torres de apartamentos caindo a pique sobre as casas baixas.

         As nuvens são brancas e também negras e sem qualquer preconceito tingem o azul do céu.

        O sol mergulha agora no Tejo, deixando à superfície um brilho que não é de prata, nem de ouro, mas tão simplesmente longas barbatanas e escamas de luz.

        As árvores são altas e parecem gigantes na minha imaginação a acelerar pelos campos.

     Por vezes avisto vacas, ovelhas, cabras, cavalos e também galos e galinhas pastando serenamente com uma dignidade mansa.

     Gosto de viajar de comboio, porque lá fora até até a poeira levantada pelo lavrar do trator transmite o trabalho árduo da paz, que só a bela e eterna criação da natureza de Deus nos pode dar.


Vila Franca de Xira/Entroncamento (14/10/2020) - comboio interregional.