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sexta-feira, 22 de maio de 2020

UMA ROSA, DE VERDADE



     Somente eu sei que não me perdi no caminho. Os imprevistos acontecem! Mas é mais fácil aceitares a opinião que tens sobre o facto, do que acreditares na verdade. Por isso é inútil dizer-te que um idiota me apontou uma arma, para me tentar roubar o dinheiro que eu não tinha e que, depois, quando entrei naquele jardim para colher esta rosa, um homem desolado se dirigiu a mim para me contar com pormenores a doentia e trágica morta da sua noiva, falecida duas semanas antes do dia marcado para o casamento.
        Entre a violência, ou o roubo e a dor de um mundo cruel, apesar de tudo eu tentei que sobrevivesse o carinho. Por aquele homem enlutado, carente de ser confortado e receber um pouco de atenção e por ti, porque não já não havia tempo para chegar a horas ao encontro marcado contigo.
        Bem sei que se podem inventar histórias para facilitar a mentira, mas não é essa a situação. A verdade é que só esta rosa sabe a intenção porque a colhi. Não para te ser oferecida como um pedido de desculpas, mas unicamente para te agradar com a beleza e o perfume do genuíno AMOR.

quinta-feira, 7 de maio de 2020

COISA SIMPLES UM HOMEM E UMA MULHER SE AMANDO




A manhã chegou trazendo um dia sonâmbulo. Os olhos cobertos pela sombra da ilusão das nuvens.
Para não te acordar tateei a escuridão do quarto, procurando as roupas despidas pelo chão na urgência de libertar o corpo para a sensível nudez do AMOR.
Coisa simples um homem e uma mulher se amando. Sem qualquer ciência ou extraordinárias invenções. Apenas com carinho, sentimentos e emoções.
Lá fora os pássaros crescem nas árvores como frutos e em breve amadurecerão com o sol. A luz irromperá de vida iluminando o mundo que ainda está inteiro à nossa espera, na beira de um caminho estreito, longo, mas profundamente belo, coberto pelas pegadas das folhas caídas que nos guiarão até à Primavera. 


Golegã (Outubro de 2018)

sexta-feira, 1 de maio de 2020

UM VELHOTE VENDENDO LARANJAS


     Hoje vi um velhote vendendo laranjas à porta de casa para sobreviver à solidão.
        Frutas doces para adoçar a amargura dum tempo de silêncio amargo.
        Os seus olhos amarelecidos pelo sol quente do dia e pelo estio dos anos eram a única centelha de vida que iluminava a tarde desolada.
        Desgraçadamente eu não tinha dinheiro, nem tão pouco tive coragem para descascar uma simples palavra que, apenas por um breve momento, fosse como um sumo agradável e reconfortante para o seu coração.
        Cobarde e inútil, passei pelo velhote que vendia laranjas e somente trouxe a tristeza e as cascas da sua solidão.