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sábado, 6 de outubro de 2018

ESPELHOS DESFEITOS


O tempo passa
no espelho efémero dos dias
e reflecte os olhos,
surpreendidos pela nostalgia,
já apagados no cinzeiro das sombras,
só o fumo das recordações se esvaindo
no vento de cada dia.

Já nem sequer há mistérios
para desvendar a vida.
Só o corpo permanece,
um vestígio,
um sorriso,
um gesto,
um momento,
a lembrar o outro.

Aquele que tu foste
crescendo nos espelhos,
ocupando todo o espaço dos sonhos
e ao fechares os olhos,
num descuido de soberba
e ténue juventude,
te perderes e ferires para sempre
no vidro moído
dos caminhos da vaidade.

Não te desesperes,
tudo tem o seu tempo:
seca a erva,
murcham as flores,
desfazem-se as pétalas da tua pele
em poalha de rugas.
Mas se reflectires verás,
que nem sequer a primavera é eterna
e que no derradeiro final
do tempo de todas as vidas,
somente o espírito do AMOR permanece.


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