O MENINO JESUS
O Menino Jesus nasceu no curral de um pasto dos Açores. Os
seus pais viviam do leite da ordenha das vacas que, à noite, ao dormirem entre elas, os
aqueciam com o seu bafo quente, quando o vento soprava de norte e se enfiava
por entre as rachas das tábuas e os açoitava com chicotadas de frio.
A família vivia num mundo perdido, entre a floresta e o
monte, no seio da natureza e da simplicidade, longe dos homens que inventam leis para
amarrarem a vida em coletes de força da opressão.
O Menino Jesus não tinha olhos azuis, nem era loura a sua
pele, mas o seu berço era uma manjedoura e o seu tecto eram as estrelas que
cobriam o telhado do céu. A sua vida era tão singela, como a dos pássaros que
crescem no ninho. Os seus pais esvoaçavam constantemente em seu redor num
chilreio de ternura. À hora certa e biológica a mãe depositava o mamilo entre
as gengivas ansiosas do Menino, numa mamada carinhosa. A família era feliz.
Até que um dia os homens fardados trouxeram as armas e
atingiram o sofrimento dos pais, ferindo-os gravemente com a retirada da
criança que, segundo as autoridades, corria perigo de vida, sobrevivendo num ambiente
miserável.
O Menino foi viver para uma instituição, depois do tribunal
aplicar uma medida com vista à sua futura adopção. Os pais ficaram inibidos de
o ver e ele ficou só, nas mãos da lei.
Várias foram as famílias que o quiseram adoptar, para depois
o rejeitarem. Muitas foram as instituições, por onde os senhores que trabalham
com os códigos das leis arrastaram o seu corpo e a sua presença inocente e
castigada.
Por fim, aos 15 anos de idade, surgiu uma luz, qual estrela,
nos olhos negros do céu e a alegria abriu um rasgo luminoso de esperança. Um casal queria fazer o seu apadrinhamento civil. Dois dias, somente, bastaram para que
o “padrinho” expulsasse de casa e atirasse para a rua o jovem Jesus, como um
cão a quem não se reconhecem direitos.
À falta de instituição o pobre moço foi despejado num asilo, entre a
solidão e o silêncio da velhice. Apesar de tudo, paciente, dócil, meigo e
amigo, é um anjo no carinho aos idosos e um estudante exemplar.
Qual será o futuro da sua vida? Só provavelmente Deus o
saberá. Num mundo tão violento, insensível e cruel, por ora ele vai sarando as
suas feridas com o espírito tranquilo e sereno da paz.
Só
peço, imploro,
Menino,
Homem,
Jesus,
que
aos 33 anos
não te espetem na cruz.
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