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segunda-feira, 12 de agosto de 2013

O MENINO JESUS

O MENINO JESUS

      O Menino Jesus nasceu no curral de um pasto dos Açores. Os seus pais viviam do leite da ordenha das vacas que, à noite, ao dormirem entre elas, os aqueciam com o seu bafo quente, quando o vento soprava de norte e se enfiava por entre as rachas das tábuas e os açoitava com chicotadas de frio.
      A família vivia num mundo perdido, entre a floresta e o monte, no seio da natureza e da simplicidade, longe dos homens que inventam leis para amarrarem a vida em coletes de força da opressão.
     O Menino Jesus não tinha olhos azuis, nem era loura a sua pele, mas o seu berço era uma manjedoura e o seu tecto eram as estrelas que cobriam o telhado do céu. A sua vida era tão singela, como a dos pássaros que crescem no ninho. Os seus pais esvoaçavam constantemente em seu redor num chilreio de ternura. À hora certa e biológica a mãe depositava o mamilo entre as gengivas ansiosas do Menino, numa mamada carinhosa. A família era feliz.
    Até que um dia os homens fardados trouxeram as armas e atingiram o sofrimento dos pais, ferindo-os gravemente com a retirada da criança que, segundo as autoridades, corria perigo de vida, sobrevivendo num ambiente miserável.
     O Menino foi viver para uma instituição, depois do tribunal aplicar uma medida com vista à sua futura adopção. Os pais ficaram inibidos de o ver e ele ficou só, nas mãos da lei.
    Várias foram as famílias que o quiseram adoptar, para depois o rejeitarem. Muitas foram as instituições, por onde os senhores que trabalham com os códigos das leis arrastaram o seu corpo e a sua presença inocente e castigada.
    Por fim, aos 15 anos de idade, surgiu uma luz, qual estrela, nos olhos negros do céu e a alegria abriu um rasgo luminoso de esperança. Um casal queria fazer o seu apadrinhamento civil. Dois dias, somente, bastaram para que o “padrinho” expulsasse de casa e atirasse para a rua o jovem Jesus, como um cão a quem não se reconhecem direitos.
      À falta de instituição o pobre moço foi despejado num asilo, entre a solidão e o silêncio da velhice. Apesar de tudo, paciente, dócil, meigo e amigo, é um anjo no carinho aos idosos e um estudante exemplar.
    Qual será o futuro da sua vida? Só provavelmente Deus o saberá. Num mundo tão violento, insensível e cruel, por ora ele vai sarando as suas feridas com o espírito tranquilo e sereno da paz.
            Só peço, imploro,
            Menino,
            Homem,
            Jesus,
            que aos 33 anos
            não te espetem na cruz. 

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