OS
AMANTES
Os amantes sobrevoaram a noite e entraram pelas
janelas abertas do quarto, livres pelo desejo. Despojaram-se das penas,
apressadamente, cobrindo o chão com as pétalas da sua nudez. Depois, num
frenesim, depenicaram-se sobre a cama e, numa vertigem humana, deixaram-se
prender na gaiola íntima do prazer, sacrificando a liberdade às grades sensuais.
Beijaram-se, acariciaram-se, amaram-se, sem dizerem
uma única palavra, apenas exaltados pela voz excitante e frenética dos gemidos.
Por fim, quando os seus corpos ficaram saciados,
recolheram do chão as suas almas de pássaros e emplumando-se em silêncio,
esvoaçaram de seguida em direcções diferentes, rasgando num golpe de asa os
lençóis do céu, como aves migratórias de sentimentos que procuram no clima
quente do sexo iludir a fria solidão dos ninhos.
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