
Procurei-te por toda a casa numa
obsessão insana, porque para além do teu corpo desaparecido já só haviam
indícios do teu cheiro agarrado pelas paredes, pelas superfícies dos móveis e
pelas esquinas do meu olfato animal. Estúpido, vivia na tua inexistência
cavando no útero das memórias para voltar a encontrar-te e renascer com as mãos
cobertas e cheias da tua essência. Tolo, procurava a lua no abismo do céu com
os olhos iluminados de uma qualquer esperança cega. Ridículo, como só os homens
sabem ser depois de perderem o leme da situação e se destroçarem contra as
rochas da indiferença, sozinhos e frágeis e desamparados. Tristes e apagados,
arrastando-se pela cinza dos dias, procurando uma explicação sobre o porquê do
fogo lento onde foram imolando os seus sentimentos e relacionamentos. Porteiros
sem tino, capazes apenas de abrir as portas e deixar entrar a luz intensa, mas
incapazes de evitar que outras mãos as fechem com a violência do silêncio, na
mais completa ausência de um simples adeus.
Vou
continuar a procurar-te todos os dias em todos os subterrâneos da minha dor,
embora pensem que sou um louco e eu saiba que o sou por não ter sentido e
reconhecido o quanto te amava até ter deixado de te ouvir, de te compreender,
de te ter afastado da minha vida e te perder.
Perdi-te e agora estou perdido nos pormenores do teu sorriso, das
tuas carícias, na eternidade de todos os nossos momentos, sentindo alastrar em
mim os sintomas da amargura e o sentimento definitivo e impossível de aceitar de que, provavelmente, não voltarei a encontrar o AMOR.