Daqui a pouco, como um
raio de luz, vais apagar-te ao fechar a porta da nossa casa pela última vez.
Vais fechar-te, para sempre, lá longe, no mundo, onde apenas poderei chegar
como um espírito pairando sobre as asas quebradas da memória.
Estás fazendo as malas.
Enchendo-as com as roupas, os sapatos, os cremes e os perfumes, os cheiros de
ti, a substância da tua essência, o essencial da tua personalidade, o fecho da
tua decisão ao encerrar todas essas coisas, simplesmente toda a cumplicidade da
nossa vida.
Arrasto-me pelo deserto
da sala, perdido, procurando achar um caminho onde encontrar a tua ausência.
Mas não enxergo o horizonte, nesta densa camada de pó em que os meus olhos se
desfazem de tristeza.
Agora é tudo tão
definitivo, que nem as perguntas têm já qualquer significado. Se não, haveria apenas
uma única pergunta, a derradeira, que gostaria de te fazer:
COMO FOI POSSÍVEL
DESTRUIRMOS TANTO AMOR?
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