Os cavalos selvagens
chegaram de noite. Atravessaram a avenida deserta e seguiram tranquilamente até
ao parque. Comeram da relva que se estendia farta pelo campo e alguns,
estendendo os pescoços esguios, alimentaram-se das folhas suspensas dos ramos
mais baixos das árvores. A cidade estava surpreendida com toda aquela liberdade
e com a coragem dos animais, que ousavam entrar na terra dos homens. Já pensava
até no que lhes aconteceria quando, à primeira fresta de luminosidade da manhã,
as pessoas os descobrissem e na sua intolerância os tentassem domar à força.
Contudo, com a mesma
serenidade com que haviam chegado, os cavalos selvagens partiram antes do dia
nascer. Protegidos pela noite e pela prudência. Livres, na sua condição de
animais inteligentes que conhecem bem as cercas do mundo e as prisões mentais
da pessoa humana.